SEMPRE CRITICAMOS COMO SÃO FEITAS E ORGANIZADAS AS FESTAS JUNINAS, AQUI HÁ ÓTIMAS DICAS PARA COMEÇARMOS A MUDAR O QUE A MAIORIA DAS ESCOLAS TEM FEITO, VAMOS REPENSAR A NOSSA PRÁTICA? LEIAM ATÉ O FINAL E PODEREMOS DISCUTIR QUAL A MELHOR MANEIRA DE ORGANIZARMOS A NOSSA, EU GOSTEI DE TODAS AS DICAS, PRINCIPALMENTE EM RELAÇÃO AOS PAIS E A PARTICIPAÇÃO EFETIVA DAS CRIANÇAS EM TUDO, ISSO É O QUE CHAMO DE APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA.
JULIA MATOS
Pedagoga
10 dicas para organizar uma festa junina educativa
É possível fazer uma festa junina legal e ainda comprometida com a aprendizagem das crianças e dos adolescentes
Foto: André Penner
Descobrir a origem da festa junina pode ser o primeiro passo para a contextualização da festa
Descobrir a origem da festa junina pode ser o primeiro
passo para a contextualização da festa
Pé de moleque, canjica, curau, pamonha, bolo de milho,
quentão, bandeirinhas, fogueira, chapéu de palha, sanfona e arraiá. Sim,
estamos falando de festa junina. Todo mês de junho é assim: tiramos do armário
as camisas xadrez e os vestidos de chita, pintamos sardinhas nas meninas e
bigodinhos nos meninos e vamos satisfeitos para a festa na escola, pensando em
todos os quitutes deliciosos que nos aguardam.
Esquecemos o principal: o significado da festa. Você conhece as origens das festas juninas? Sabe por que comemos tantas iguarias de milho e de onde vêm as danças? E o colégio do seu filho, aproveita as festas juninas para preencher buracos na grade horária e engordar o caixa ou utiliza os festejos para ensinar alguma coisa para as crianças?
Embora seja uma tradição consagrada e rica da cultura popular, muitas escolas organizam festas de São João, Santo Antonio e São Pedro que pouco, ou nada, contribuem para a aprendizagem dos alunos. O Educar Para Crescer consultou alguns pedagogos e um antropólogo e elencou algumas dicas para garantir que a sua festa junina seja uma verdadeira aula.
Esquecemos o principal: o significado da festa. Você conhece as origens das festas juninas? Sabe por que comemos tantas iguarias de milho e de onde vêm as danças? E o colégio do seu filho, aproveita as festas juninas para preencher buracos na grade horária e engordar o caixa ou utiliza os festejos para ensinar alguma coisa para as crianças?
Embora seja uma tradição consagrada e rica da cultura popular, muitas escolas organizam festas de São João, Santo Antonio e São Pedro que pouco, ou nada, contribuem para a aprendizagem dos alunos. O Educar Para Crescer consultou alguns pedagogos e um antropólogo e elencou algumas dicas para garantir que a sua festa junina seja uma verdadeira aula.
Qual a origem da festa junina? Descobrir isso pode ser o
primeiro passo para a contextualização da festa. E é importante motivar os
alunos a buscarem esta resposta. Saber que a tradição vem dos festejos de
agradecimento aos santos pela colheita do meio do ano e que, por isso, a
maioria dos quitutes é feita de milho, por exemplo, pode despertar neles o
interesse pela história. "É necessário recuperar o porquê da tradição da
quadrilha, das comidas, da fogueira, para que a festa junina não vire uma mera
caricatura do mundo da roça", diz o antropólogo Jadir de Morais Pessoa,
professor titular da Universidade Federal de Goiás, especialista em folclore.
Homem do campo não é Jeca Tatu. É importante apresentar o
campo de uma nova maneira. Tirar o olhar de deboche sobre o caipira, manifesto
muitas vezes pelas roupas exageradas ou por posturas imbecilizadas.
"Trazer uma pessoa da roça para contar dos saberes, descaricaturizar o
homem rural. Festejá-lo como sujeito portador de saberes", indica o
antropólogo Jadir de Moraes.
Um dos elementos mais importantes das festas juninas são as
danças e as músicas populares. Muitas escolas contratam profissionais
especializados em cultura popular para valorizar e aprofundar esse universo e
desenvolver com os alunos as danças e as canções típicas. Elas não se limitam a
contratar sanfoneiros e conjuntos para meras apresentações, fazem mais: colocam
os alunos para dançar e até para criar as músicas. "No colégio Vera Cruz,
trabalhamos há 10 anos danças típicas de todo o Brasil. As crianças de 5 anos
apresentam a "Congada", dança de Minas Gerais; as de 6 anos dançam o
"Bumba meu Boi", do Maranhão; e as de 7 anos fazem a tradicional
quadrilha", conta Elizabeth Menezes, professora de educação corporal do
colégio Vera Cruz.
A festa junina pode ser ótima oportunidade também para apresentar novos instrumentos musicais para as crianças.
No Vera Cruz, a professora traz instrumentos folclóricos como a caixa do Divino Espírito Santo, a matraca, os gungas e os chocalhos. "O mais lindo é ver o quanto as crianças aprendem. Esse ano um aluno criou uma música que nós vamos utilizar na dança: "Um triângulo, dois quadrados, céu e terra, sol e chuva formam o planeta terra de todo mundo", emociona-se a professora, cantando a canção do aluno Theo Vendramini Sampaio, de 5 anos.
A festa junina pode ser ótima oportunidade também para apresentar novos instrumentos musicais para as crianças.
No Vera Cruz, a professora traz instrumentos folclóricos como a caixa do Divino Espírito Santo, a matraca, os gungas e os chocalhos. "O mais lindo é ver o quanto as crianças aprendem. Esse ano um aluno criou uma música que nós vamos utilizar na dança: "Um triângulo, dois quadrados, céu e terra, sol e chuva formam o planeta terra de todo mundo", emociona-se a professora, cantando a canção do aluno Theo Vendramini Sampaio, de 5 anos.
Como motivar os estudantes e trazê-los para o projeto? A
escola Viva, de São Paulo, utilizou, neste ano, um recurso muito simples: fixou
painéis por toda a escola. Os cartazes, confeccionados pelos próprios alunos,
traziam curiosidades e atraiam a atenção para o evento. "Foi uma maneira
de despertar a atenção nos mais novos. Os painéis traziam informações do tipo:
você sabe por que tem fogueira na festa junina? Além disso, traziam fotos dos
professores em festas juninas, quando crianças. A brincadeira era adivinhar
quem era o professor", disse Marta Campos, coordenadora geral do Ensino
Fundamental I da Escola Viva.
As festas juninas escolares devem ser feitas por e para os
alunos. O objetivo é estimular o senso de autonomia e de cooperação, reforçando
a importância do trabalho comunitário na escola. Para isso, é importante
envolver os estudantes em todo o processo, desde a confecção dos estandartes e
bandeirinhas à organização das brincadeiras. "Todos os alunos estão
envolvidos na organização da festa. Mas alguns têm responsabilidades maiores.
Eles coordenam os preparativos, fazem reuniões com a diretoria, apresentam
relatórios e tem autonomia para decidir", afirma Wanilda Tieppo,
assistente de direção da escola da Vila.
A preparação da festa pode e deve estar atrelada ao conteúdo
aplicado em sala de aula. Na escola Oswald de Andrade, por exemplo, cada classe
é responsável por uma barraca e cada barraca apresenta transversalmente o
projeto trabalhado em classe. "A turma que está estudando os alimentos,
por exemplo, preparou uma barraca relacionada ao assunto", destaca Roberta
Ferrari Rodovalho, coordenadora assistente do Colégio Oswald de Andrade, de São
Paulo
Uma das tradições da festa junina são as brincadeiras: pescaria, boca do palhaço, jogo da argola, corrida de sacos, pau de sebo, entre outros. Os jogos juninos são a grande diversão da garotada e podem ser uma boa maneira de transmitir valores de cidadania para os alunos. Dois bons exemplos de valorização do lúdico acontecem nas escolas Vera Cruz e Oswald. Na primeira, as próprias crianças são responsáveis pela confecção das prendas. "Elas fazem colares, cadernos, trabalhos em argila e todo tipo de brinquedos. Vale tudo, o importante é a participação", diz Elizabeth Menezes. Já no Oswald, não há brindes para os vencedores. "O objetivo é estimular a brincadeira pela brincadeira", conta Roberta Ferrari Rodovalho, coordenadora assistente do colégio Oswald de Andrade, de São Paulo.
A participação dos pais e familiares é importante para as
festas juninas em vários aspectos. Para começar, quando comparecem os pais
estimulam a criança e reforçam a auto-estima. Mas eles também podem contribuir
na organização. No Colégio Oswald de Andrade, por exemplo, os pais
conjuntamente com os filhos são convidados a preparar e a trazer os comes e
bebes. "A participação dos pais é muito importante para nós. Cabe a eles
trazer as comidas, que ficam todas dispostas em uma mesa. O lanche é
comunitário, não tem custo, é só chegar e pegar", diz Roberta Ferrari
Rodovalho, assistente de direção do Colégio Oswald.
É muito importante não atrapalhar a rotina e a programação
escolar por causa da festa. A começar pela escolha da hora e da data do evento.
Não pode ser no horário letivo. O melhor é fazer aos sábados, domingos ou
depois das aulas. "Nunca fazemos nossas festas em período letivo, temos um
programa a seguir e não descumprimos. As festas juninas acontecem sexta-feira à
tarde, único dia da semana que não funcionamos em período integral",
explica José Carlos Alves, diretor do Colégio de Aplicação do Pernambuco,
escola pública com a segunda melhor média no Enem e 14ª colocada no ranking
nacional.
A festa junina não pode ser apenas um pretexto para se
arrecadar dinheiro para melhorias na escola. Precisa se auto-sustentar, é
claro, mas não precisa gerar lucro. Algumas escolas, como a escola da Vila, em
São Paulo, preferem utilizar a festança para juntar recursos para instituições
de caridade. "Não cobramos entrada. Pedimos para que as pessoas tragam
doações, que repassamos à ONGs que ajudam pessoas carentes. Em 2008 e em 2009,
estamos arrecadando utensílios de higiene e roupas para uma instituição que
auxilia moradores de rua", disse Wanilda Tieppo, assistente de direção da
escola da Vila.


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