quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

PARA COMBATER O PRECONCEITO,INCENTIVE SEU FILHO A ACEITAR A DIVERSIDADE DESDE CEDO


PARA LER E REFLETIR...

Estranhar o diferente é uma reação comum do ser humano. Nas crianças, antes que o ato seja contaminado por juízos de valor negativo, os pais e educadores devem intervir para mostrar que é preciso aceitar as diferenças e conviver em harmonia com elas.

O psiquiatra Telmo Kiguel cita o exemplo de uma criança de colo, que, por conviver somente com pessoas parecidas com ela, pode se assustar com a presença de uma babá que seja de outra origem étnica. "É natural essa reação. Cabe a mãe introduzir com carinho a presença da profissional para mostrar que a convivência com as diferenças é segura", diz.
Segundo o especialista, o bebê reage por medo do que lhe parece diferente. No entanto, se a mãe agir de maneira negativa com essa babá, o filho pode entender que a aparência é a razão da aversão do adulto, originando um preconceito étnico-racial. "Se os pais são discriminadores dificilmente ajudarão os filhos a não ter preconceito. Se não forem, servirão de modelo pela sua conduta e por aquilo que puderem transmitir verbalmente", declara.
Em sua tese pelo Instituto de Psicologia da USP sobre inclusão na educação infantil, a doutora em psicologia Marcia Regina Vital escreveu que estranhar o diferente é uma reação baseada no medo de questões inconscientes e reprimidas da própria pessoa, que, de alguma forma, ela consegue identificar no outro.
O diferente pode gerar medo, insegurança, amor, rejeição, curiosidade e despertar mecanismos de defesa que, dependendo da intensidade da relação, podem levar à violência. A partir dos três anos, a criança começa a se socializar mais intensamente e tem de aprender a lidar com esses medos e a elaborar seus próprios conceitos, com base na sua carga de conhecimento e em ideias transmitidas pelos pais, amigos e educadores.
"Atitudes, falas e alguns comportamentos dos pais, mesmo sem intenção, induzem à discriminação, pois eles, muitas vezes, interiorizaram o preconceito", afirma Marcia. Dessa maneira, a criança pode ter atitudes preconceituosas que passam despercebidas porque o adulto é indiferente à questão do preconceito ou pelo fato de ele próprio discriminar.
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    Os pais devem promover a convivência com pessoas de diferentes grupos raciais e culturais

Escola ativa

"É na escola que se estabelecem interações cotidianas por longos períodos entre pessoas de credos, costumes, culturas e origens muito distintas, por isso a instituição não pode se furtar ao papel de educadora da igualdade", declara a pedagoga Lucimar Rosa Dias, professora da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e autora do livro "Cada Um É de Um Jeito, Cada Jeito É de Um" (Editora Alvorada).
A busca por escolas que tenham projetos que tratem da diversidade em seus currículos –e que discutam abertamente o preconceito– também é uma maneira de promover a aceitação dentro de casa. Uma escola omissa contribui para aumentar o preconceito no pensamento infantil.
"Temos uma lei que fará dez anos em 2013 (lei 10.639, de 2003), que incluiu a história e a cultura afro-brasileira e indígena na educação básica, mas muitas escolas nada fazem para mudar o currículo e deixá-lo mais plural e menos preconceituoso", afirma Lucimar.
Segundo a pedagoga, para combater o preconceito, a escola deveria trabalhar a orientação sexual identificando e antecipando questões entre os alunos, evitar as divisões de ações entre"coisas de meninos e de meninas" e fazer com que seus professores explicitassem, e tratassem com equilíbrio, a diversidade étnico-racial, utilizando materiais didáticos adequados.

Descompasso

Lucimar afirma que a sociedade valoriza homens sensíveis e solidários nas relações sociais, mas, na infância, os meninos são estimulados com brincadeiras agressivas.  "É como se a criança não estivesse vivendo no mesmo tempo histórico que nós." Para a especialista, ela pensa o mundo tanto quanto os adultos e pode ser colocada em contato com questões importantes sobre as relações, tais como o preconceito.
A socióloga e professora Rita de Cassia Fazzi, da PUC de Minas Gerais, desenvolveu uma pesquisa em colégios públicos mineiros para avaliar as manifestações de preconceito racial entre crianças de oito e nove anos. No estudo, ela percebeu que os alunos elaboravam categorias raciais diferentes de acordo com a pele, aprendidas com suas famílias.
De acordo com a pesquisa da especialista, a categoria intermediária "moreno ou morena" não sofria discriminação, enquanto que a categoria "negro" era discriminada, sendo sua denominação utilizada como xingamento entre os colegas. "Os morenos xingavam os de pele muito mais escura como se não tivessem a mesma origem geográfica", fala Rita.

Bons exemplos

Lucimar diz que o preconceito e a discriminação são construídos nos pequenos detalhes vividos no cotidiano. "Um pai que ofende com xingamentos do tipo ‘tinha de ser negro, mulher ou gay’ ensina a seus filhos a intolerância, o sexismo e a homofobia."
A pedagoga afirma que o adulto tem de ajudar a criança a desenvolver uma nova maneira de ver o outro, por exemplo, presenteando-a com livros que tratem da diversidade de modo positivo e conversando desde cedo sobre os estereótipos.
"A literatura é uma via muito fértil, pois fala com a criança pequena sem dar receitas, abrindo portas para um mundo mais solidário", declara Lucimar. Outra atitude que os pais devem ter é conviver com pessoas de diferentes grupos étnico-raciais e, sobretudo, ter uma postura de vida que combata hierarquias e subordinações de raça, gênero, etnia e classe social.
"Pais que não respeitam o espaço dos próprios filhos, que só dão limites por meio de gritos e tapas ou que não dão limite nenhum, não estão educando para o respeito à diversidade, pois não respeitam as diferenças em suas casas", fala a especialista.
Se os pais constatarem uma atitude preconceituosa no filho, como agir? Com firmeza e doçura, afirma Lucimar. Independentemente da idade, é preciso coibi-la e explicar o porquê da repreensão. "Não dá para pensar que a reação violenta e rude vai construir um modo solidário e humanizador para o outro."

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

ESTUDO MOSTRA IMPORTÂNCIA DA CRIATIVIDADE NA INFÂNCIA

Por Vagner Alencar, do Porvir


Uma educação rica em artes na infância pode aumentar em 17,6% as chances de uma criança ingressar no ensino superior e conseguir um bom emprego. Por outro lado, a ausência de atividades criativas pode elevar em cinco vezes as chances de um jovem, a partir dos 26 anos, se tornar dependente de ajuda financeira ou assistência pública. Esses são alguns dos dados do estudo Buenos Días Creatividad (Bom Dia Criatividade, em tradução livre), realizado pela Fundação Botín, da Espanha, e por especialistas internacionais, lançado no último mês, em Madri.
O estudo, que contém 123 páginas, aborda temas como: aspectos que influenciam um ensino criativo, a criatividade e o desenvolvimento infantil na sala de aula, o papel da família no desenvolvimento da criatividade e os espaços públicos que favorecem o potencial criativo de pessoas e comunidades.
A pesquisa mostra, por exemplo, que ambientes naturais oferecem vantagens em relação aos parques infantis construídos artificialmente, já que estimulam as brincadeiras de modo mais diverso e criativo. Essa realidade, de acordo com o estudo, tem levado muitas autoridades municipais a repensar o planejamento urbanístico, substituindo os espaços infantis tradicionais pelos que chamam de espaços de jogos naturais.
Outro ponto abordado pela pesquisa se refere aos benefícios dos centros de arte, que são responsáveis por ajudar a desenvolver a comunicação pessoal e a inclusão social sobretudo dos jovens. O estudo apresenta um caso brasileiro, a Escolinha de Arte do Brasil, fundada em 1948, no Rio de Janeiro, como referência na história da educação artística no país. “A arte tem a virtude de vencer o chatice cada vez mais patente – facilmente observada, entre adolescents – na educação pública formal”, enfatiza o estudo.
Entre os pesquisadores do relatório está a sueca Martina Leibovici-Mühlberger, doutora em questões de família. No relatório, ela afirma que as crianças nascem com uma “incrível capacidade de aprender, pensar e interagir com o mundo de forma criativa”. Metaforicamente, afirma, que os pequenos vem ao mundo com “programas de software” pré-instalados nos seus cérebros, e muito novos tem facilidade para desenvolver habilidades complexas como nadar ou falar outras línguas. No entanto, assim que passam a interagir com o mundo real, eles são afetados pelo “vírus” que atrasa esse desenvolvimento. A especialista chama de vírus hábitos como o da comparação, classificação, avaliação, culpa, crítica, que são responsáveis pela perda de 70% das capacidades inatas das crianças. “Na realidade, eles não perdem as habilidades, mas elas ficam mais adormecidas”, pondera a especialista.
O estudo mostra que diversos pesquisadores afirmam que hoje se vive uma “autêntica crise criativa”. Para evidenciar esse cenário, o informe recorre a algumas conclusões de pesquisas já realizadas sobre o tema. Uma delas é a Kyung Hee Kim, professora de psicologia da educação no College of William and Mary, nos Estados Unidos, e também ensina pais e professores de todo o mundo a promover a criatividade das crianças. Em 2010, Kyung apresentou um estudo em que entrevistou cerca de 300 mil adultos e crianças americanos e verificou que “nos últimos 20 anos, as crianças se tornaram menos expressivas em suas emoções, menos falantes, menos bem-humoradas, menos vitais e apaixonadas, entre outras coisas”.
Em contrapartida, para mostrar como a educação artística ajuda na melhora do desempenho acadêmico, o relatório mostra uma pesquisa realizada por James Catterall, professor de educação na Universidade de Califórnia, nos EUA. Depois de entrevistar mais de 25 mil estudantes americanos, Catterall verificou que aqueles que são mais envolvidos com artes faltam menos às aulas e são mais felizes na escola, além de se mostrarem mais interessados em ler, escrever e realizar operações matemáticas “complexas”. O envolvimento com atividades criativas também aumenta em 15,4% a probabilidade de se engajarem em trabalhos voluntários, eleva em 8,6% a chances de criarem amizades mais sólidas ao longo da vida e aumenta em 20% o interesse dos jovens em votar.
O estudo está disponível em espanhol e inglês e pode ser encontrado no site Fundação Botín.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

ANTECIPANDO A INFÂNCIA...UMA PENA


23/10/2012 - 03h30

Miniatura de periguete


Que as crianças têm cada vez menos infância é um fato já constatado e conhecido por muita gente.
Há mais de 20 anos que teses, ensaios e livros produzidos por estudiosos das mais diversas áreas do conhecimento alertam para essa questão tão importante.
Não há dúvida de que foi o mundo que mudou. Muitas pessoas acreditam que as crianças da atualidade são diferentes porque já nascem assim: mais conectadas com o que acontece à sua volta, mais cientes do que querem, mais sabidas e muito menos afeitas à obediência.
Mas não. O que acontece, na verdade, é que elas são estimuladas desde o primeiro minuto de vida, e os adultos que as cercam estão ocupados demais consigo mesmos e com sua juventude para ter a disponibilidade de construir autoridade sobre as crianças.
Além disso, os adultos estão muito orgulhosos com os feitos dos filhos que aí estão, cada vez mais, simplesmente para satisfazer os caprichos dos pais.
Tudo --absolutamente tudo-- o que acontece no mundo adulto está escancarado para as crianças.
Estão escancarados aos mais novos crimes e castigos, corrupção na prática política, desumanidades, destruição e violência de todos os tipos, desde a mais pesada à mais cotidiana (que nem sempre é reconhecida como uma forma de violência).
E as crianças sofrem e sofrem com tudo isso, mas sem saber. Ainda. Elas ainda não sabem que mais de dez por cento de suas vidas --a parte que corresponde ao período chamado de infância, no qual poderiam se dedicar a brincar de maneira infantil-- está se esvaindo em consequência dos caprichos dos adultos. Para ilustrar esse ponto, vou citar aqui dois fenômenos recentes.
Creio que você já ouviu, caro leitor, a palavra "periguete". Já está até no dicionário.
É uma expressão da linguagem informal, surgida na periferia da capital baiana, que tem diversos significados, dependendo de quem a usa e em que contexto.
No quesito aparência, o termo se refere a mulheres que se vestem com roupas curtas, decotadas e muito justas, deixando muito corpo em exposição.
Os trajes usados por essas mulheres são considerados vulgares, mas há quem não aceite esse sentido. Hoje, temos estilistas dedicados a criar linhas de roupas com esse perfil, tamanho é o sucesso que o estilo tem feito com o público feminino.
Pois é: agora muitas mães estão vestindo suas filhas como "periguetes".
A garotada gosta de aderir ao personagem principalmente porque papéis com esse estilo, em novelas, têm tido bastante destaque e seduzido a criançada.
Pudera: corpo à mostra, expressão corporal exagerada, voz demasiadamente alta tem tudo a ver com criança, não é verdade?
O que as crianças desconhecem é o caráter extremamente erotizado dessa fantasia que elas andam vestindo.
Claro que, para as crianças, é apenas o chamado "look periguete" que importa e não o comportamento de mulheres adultas que assim se reconhecem. Mas precisamos entender que erotismo é coisa de gente grande para gente grande.
Agora, como se não bastasse travestir crianças pequenas como "periguetes", muitos pais também as levam a "baladinhas" com direito a DJ, muita dança, muita gente, pouca iluminação etc. Igualzinho ao que acontece no mundo adulto.
Enlouquecemos ou o quê?
Com a expectativa de vida em torno dos 75 anos, por que não deixamos nossas crianças em paz para que possam viver sua infância? Afinal, depois de crescidas, elas terão muito tempo para fazer o que é característico do mundo adulto. Adiantar por quê?
Em nome de nossa diversão, só pode ser.
Rosely Sayão
Rosely Sayão, psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia-a-dia dessa relação. É autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha), entre outros. Escreve às terças na versão impressa de "Equilíbrio".

    LEIAM SEMPRE PARA SEUS FILHOS E OS INCENTIVE A LER!!


    LER UM ETERNO PRAZER!